A grande aventura dos jovens de hoje

Texto escrito pelo Dr. Hugo de Azevedo sobre o Dia Mundial da Juventude


A juventude de hoje são muitas juventudes, crescidas nas mais diversas circunstâncias sociais, económicas e culturais; de qualquer modo, é uma juventude que ainda foi testemunha de um certo estádio civilizacional, e participa agora nesta viragem globalizante, de características imprevisíveis, isto é, numa nova e formidável aventura humana. De que dispõe para a enfrentar? De imagens e palavras que já não lhe servem, porque as imagens foram ultrapassadas e as palavras esvaziadas de conteúdo. Entra, de facto, numa autêntica aventura: não tem um objectivo claro a alcançar, nem pontos de referência que a orientem - no plano social, externo, digo, pois no plano interior, da consciência, há sempre valores e objectivos imutáveis: os da natureza humana. O homem procura sempre a sua felicidade terrena e transcendente, tanto pessoal como colectiva; e realiza-se pela doação aos outros, ou pelo amor, se preferirmos dizê-lo assim.

Não contando com uma ordem social que o ampare, mas só com uma espécie de caos ideológico e moral, o jovem de hoje precisa de se convencer antes de mais de que está só, de que a sua sorte depende essencialmente dele mesmo: ou assume a responsabilidade individual e geral do mundo de hoje, ou perde o sentido da sua existência e o controlo de si mesmo.

O jovem cristão está numa condição privilegiada: embora a Igreja não lhe ofereça um projecto político-social (pois não é tal a sua missão, nem, portanto, a sua competência), oferece-lhe em Cristo a luz da consciênia, o conhecimento profundo da natureza humana, as leis perenes da vida social, o sentido último da existência, e a graça pela qual pode enfrentar, sem medo, com viva esperança, o novo mundo e qualquer mundo que venha a esboçar-se.

De uma coisa necessita urgentemente: formação. Formação doutrinal correspondente ao seu nível intelectual; formação moral sólida, isto é, critérios claros e práticos de actuação honesta; formação espiritual e ascética, ou seja, uma disposição constante de luta interior por alcançar a mais plena união com Deus; formação profissional, de modo a servir o melhor possível os seus irmãos, os homens, e a ordenar a sociedade segundo o Coração de Cristo; formação apostólica, para reconhecer em cada circunstância uma oportunidade providencial de evangelização; e formação humana e cultural, que o abra cada vez mais ao espírito de iniciativa e à amizade e convivência com todos.

Cada jovem se encontra hoje perante todo o tipo de desafios. Mas quando o homem resolve enveredar decididamente pela aventura interior da santificação, está preparado para qualquer outra aventura: não se assusta com os seus defeitos, nem com os defeitos alheios; não desanima com os seus erros nem com os dos outros, mas esforça-se por rectificá-los; não perde a esperança por causa dos seus pecados, nem os dos seus irmãos, mas arrepende-se e conta com a misericórdia divina; não pretende resolver à pressa - com raiva - os seus problemas nem os problemas do mundo, mas conta com o tempo, aprecia cada passo positivo, persiste... E vai abrindo caminhos, vai descortinando metas, vai reunindo esforços, vai atingindo objectivos... E vai sobretudo conhecendo e amando cada vez mais Deus, vivendo de braço dado com Cristo, guiado pelo Espírito Santo.

O jovem verdadeiramente cristão é, de facto, «o sal da terra e a luz do mundo»: aquele de que mais necessita o mundo actual. Se a juventude já é, por si mesma, uma grande e arriscada aventura, a que hoje enfrentam os jovens é uma aventura de grandeza e importância histórica excepcionais, e contam para isso - porque Deus é justo - com excepcionais graças divinas.