quarta-feira, março 10, 2004

Conferência Episcopal


Meditação sobre a vida
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Introdução

1. Na nossa sociedade a vida é, frequentemente, tema de notícia. E é natural que assim seja, pois não sendo exclusiva do homem, a vida define o próprio homem, na sua dignidade, na sua responsabilidade, no drama da sua existência, no horizonte da sua esperança, que se afirma como desejo de mais vida, de uma vida melhor. Sendo o seu dom mais precioso, o homem encontra nela um desafio para a liberdade, a motivação para a generosidade e a responsabilidade: a vida torna-se, para ele, o fundamento principal da exigência ética, porque aí se descobre como ser responsável perante a sua própria vida e perante os outros seres vivos, sobretudo os outros homens, chamados a descobrir a vida no diálogo fraterno e na corresponsabilidade mútua. Como afirma João Paulo II, “trata-se de uma realidade sagrada que nos é confiada para a guardarmos com sentido de responsabilidade e levarmos à perfeição, no amor, pelo dom de nós mesmos a Deus e aos irmãos”(1) .
Na maneira de abordar o problema da vida, o homem exprime o carácter paradoxal e, por vezes, contraditório da sua própria existência. É capaz de beleza e de drama, das mais sublimes expressões de generosidade, e das mais abjectas manifestações de violência e de desprezo pela vida. A alegria encantada da mulher, que exulta quando lhe foi dada a notícia da sua maternidade ou recebe pela primeira vez, nos seus braços, o filho recém-nascido, é ensombrada pelo drama de mães que abandonam os seus filhos ou lhes truncam a vida antes de nascerem, frequentemente instigadas por outros. À generosidade heróica de tantos ao serviço da vida e dos seus irmãos, contrapõe-se a violência de quem não hesita em matar ou prejudicar gravemente os seus irmãos, nas suas possibilidades de viver. Perante estas atitudes contraditórias frente ao mistério da vida, sentimos como o homem precisa de redenção.
A nossa sociedade tem sido, nos últimos tempos, atravessada por manifestações desta contradição. Anuncia-se com júbilo o resgate de sobreviventes, depois de vários dias soterrados nos escombros de uma tragédia e noticia-se, com ternura, a descoberta de um bebé abandonado. A ciência genética abre novas esperanças à qualidade de vida e há já pais a congelar as células estaminais do cordão umbilical dos seus bebés. Mas simultaneamente ressuscita-se uma campanha violenta a favor da legalização do aborto e a sociedade assiste perplexa à extensão do fenómeno de abusos sobre crianças.
A doutrina da Igreja sobre a vida, a que o Santo Padre chama o “Evangelho da Vida”, é conhecida de todos, e é sincero o esforço dos cristãos para a porem em prática, embora com a imperfeição inerente à nossa fragilidade pecadora. A relevância que têm assumido, entre nós, nos últimos tempos, os problemas da vida, leva-nos a convidar todos os cristãos a fazerem, connosco, uma meditação sobre a vida e a aprofundar mais o “Evangelho da Vida”, pois só ele pode ser a fonte inspiradora da exigência moral de todas as nossas atitudes perante a vida.
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In Agência Ecclesia


«A Paixão de Cristo»



Pelo Departamento P. Peter Stilwell

A polémica que tem envolvido o filme «A Paixão de Cristo» de Mel Gibson sugere a existência de alguma tensão entre as comunidades judaica e cristã. Independentemente de qualquer avaliação cinematográfica ou consideração teológica sobre a obra, queremos, nesta altura, sublinhar as boas relações e a colaboração hoje existente entre ambas as tradições religiosas, tanto ao nível mundial como na cidade de Lisboa.
Num exemplo retomado com particular vigor por João Paulo II, a pessoa e obra do bom papa João XXIII romperam com séculos de inimizade e abriram caminho a uma declaração histórica do Concílio Vaticano II (Nostra aetate, 1965, 4), na qual se afirmou solenemente a respeito da morte de Jesus que «o mal praticado na sua paixão não pode ser atribuído indiscriminadamente a todos os judeus que viviam então, nem aos judeus dos nossos tempos. [...] Procurem, pois, todos não ensinar na catequese e na pregação da palavra de Deus qualquer coisa que não se coadune com a verdade evangélica e o espírito de Cristo.»». E adiante se acrescenta que «a Igreja, [...] consciente do seu património comum com os judeus e impelida não por razões políticas mas pela religiosa caridade evangélica, deplora todos os ódios, perseguições e manifestações de anti-semitismo efectuadas em qualquer altura e por quaisquer pessoas contra os judeus.»
Os bispos recomendavam: «uma vez que é tão grande o património espiritual comum aos Cristãos e aos Judeus, quer este Sagrado Concílio fomentar e recomendar entre ambos o conhecimento e a estima mútua, que se obtém principalmente por meio dos estudos bíblicos e teológicos e pelos diálogos fraternais.»
Em Lisboa, o contacto entre as comunidades tem sido crescente e amistosa. Gesto importante nesse processo foi o abraço entre o Patriarca de Lisboa e dirigentes de comunidades judaicas, no largo de S. Domingos, por ocasião do encontro «Oceanos de Paz», em Setembro de 2000. Não esquecemos também o momento histórico de oração pela Paz, na Sinagoga de Lisboa, há um ano, em que a Igreja Católica se fez representar, juntamente com as outras comunidades religiosas sediadas na cidade. Na mesma linha de aprofundamento de relações vai a colaboração inédita entre as comunidades Israelita, Islâmica e Católica de Lisboa, no âmbito da Faculdade de Teologia, para valorizar o património das respectivas tradições no nosso país através dum curso pela Internet, sobre Turismo e Património Religioso.
Esperamos, portanto, que o filme de Mel Gibson, sendo ocasião de debate e mesmo de polémica, sirva de pretexto para reflectirmos melhor sobre o nosso passado e aprofundar as relações fraternas hoje existentes.

Pelo Departamento

P. Peter Stilwell

Secretariado Diocesano de Pastoral Juvenil de Viana do Castelo, Cúria Diocesana. Convento de São Domingos. 4900-864 Viana do Castelo Telef.258-824567 Fax.258-824459 Email: jotas@tugamail.com